Resumo 5 - O que os empregadores pensam sobre o trabalho da pessoa com deficiência
TANAKA, E. D. O., MANZINI E, J, O que os empregadores pensam sobre o trabalho da pessoa com deficiência, Revista Brasileira de Educação Especial, Marília, Mai-Ago. 2005, V II, n 2, p271-294
Autor do Fichamento: Valmir Garcia
INTRODUÇÃO |
“A inserção da pessoa com deficiência entrou em vigor há mais de 14 anos. No Brasil, a legislação sobre acesso de pessoas com deficiência ao Trabalho entrou em vigor há mais de 14 anos, mais precisamente nas Leis nº 8.112, de 11de dezembro de 1990, que define em até 20% o percentual de vagas em Concursos públicos, e nº 8.213, de 24 de julho de 1991, que determina uma cota de Vagas para a pessoa com deficiência, variando de 2 a 5 %, junto às empresas privadas com mais de 100 funcionários (BRASIL, 1999a; 1999b). Mesmo com a promulgação dessas leis, a oportunidade para a pessoa deficiente, de ter acesso ao mercado de trabalho, ainda caminhou em passos lentos durante muito tempo e começou a tomar impulso com a fiscalização mais rigorosa pelo Ministério Público do Trabalho. ”(P.1) “Segundo Néri (2003), a Relação Anual de Informações – RAIS, do Ministério do Trabalho e Emprego mostrou que no ano de 2000, dos 26 milhões de trabalhadores formais ativos, apenas cerca de 537 mil eram pessoas com deficiência, representavam 2,05% desse total. ”(P.2) “Além de fatores individuais, econômicos e sociais, um outro aspecto que dificultaria a inserção da pessoa com deficiência no trabalho, apontado pela literatura científica é a falha no processo de formação e qualificação profissional. ”(P.2)
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DIFICULDADES DE INSERÇÃO
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“A simples existência de leis, por si só, não se constitui uma medida segura para garantir o acesso e a permanência da pessoa com deficiência no trabalho. Mesmo que o seu direito ao trabalho já esteja assegurado por lei, na prática, a jornada ainda é bastante longa, pois existem alguns fatores que precisam ser analisados antes de se pensar em uma inserção efetiva e eficiente dessa população no mercado de trabalho. ”(P.3) “Dentre eles, o preparo profissional e social da pessoa com deficiência que está buscando o mercado de trabalho e também as condições estruturais, funcionais e sociais do ambiente que irá recebê-la como funcionária, para que não se corra o risco de admiti-la simplesmente por benevolência ou mera obrigatoriedade de lei. ”(P.3)
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POUCOS ESTUDOS SOBRE O TEMA |
“A literatura científica brasileira que visa conhecer o trabalho da pessoa com deficiência sob a ótica dos empregadores ainda é bastante escassa. Existem poucos estudos, como os de Carreira (1996) e Aloisi (1999a), que tratam dessa questão.Portanto, conhecer a visão que o empresário tem sobre o trabalho da pessoa com deficiência também deve fazer parte do processo de compreensão das dificuldades que essa população enfrenta para ocupar um espaço no mercado de trabalho, já que, por força da lei, ele acaba sendo obrigado a reservar-lhe um percentual de vagas. Assim, o presente trabalho teve a finalidade de identificar o ponto de vista dos empregadores sobre a pessoa com deficiência, o seu trabalho e a sua inserção no quadro de funcionários da empresa. ”(P.3)
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DESENVOLVIMENTO DO ESTUDO
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“Os informantes foram seis pessoas responsáveis pelo setor de recursos humanos, das empresas que foram escolhidas para fazerem parte deste estudo, conforme mostra o Quadro 1. Quadro 1 - Caracterização dos entrevistados. Os dados foram coletados em seis empresas de uma cidade localizada no norte do Paraná, que empregavam pessoas com deficiência e possuíam mais de 100 funcionários no seu quadro de pessoal. Essas empresas eram pertencentes aos ramos de comércio, indústria e prestação de serviços. No quadro 2, encontra-se a caracterização dessas empresas.” Participantes Sexo Idade Formação Profissional Cargo ocupado Tempo P1Feminino 33 anos Psicologia, Especialização em Psicologia Organizacional Psicóloga Organizacional 7 anos P2 Masculino 28 anos Administração de Empresas Encarregado de Depto de Pessoal 3 meses e meio P3 Feminino 30 anos Psicologia, Especialização em Psicologia Organizacional e Gestão Empresarial Responsável pelo setor de Recursos Humanos 2 anos e meio P4 Feminino 35 anos Pedagogia e Administração de Empresas, Especialização em Marketing Assistente Administrativa 6 anos P5 Feminino 29 anos Psicologia Psicóloga Organizacional 7 anos P6 Masculino 49 anos Educação Física Encarregado de recursos Humanos Não disse (P.3)
Quadro 2 - Caracterização das empresas. “Para conhecer a opinião dos participantes, foi utilizado como instrumento de coleta de dados um roteiro para entrevista semi-estruturado, contendo questões que abrangiam a concepção de deficiência, opinião sobre o trabalho e a formação profissional da pessoa com deficiência e fatores que pudessem interferir na colocação no mercado de trabalho. Esse roteiro foi submetido à apreciação por juízes3 para verificar a sua adequação quanto à linguagem, forma de realização das perguntas, seqüência das perguntas e abrangência do fenômeno estudado (MANZINI, 2003). As empresas que fizeram parte deste estudo foram selecionadas a partir de uma listagem fornecida pela Secretaria do Estado do Emprego e Relações do Trabalho – SERT, contendo o nome das empresas que possuíam mais de 100 funcionários e estavam situadas na cidade onde ocorreu a coleta de dados. Para isso, as empresas dessa listagem foram classificadas em três grupos, de acordo com o ramo de atividade (comércio, indústria e prestação de serviços). Em seguida, as empresas de cada grupo foram enumeradas separadamente, de acordo com a ordem de sorteio. Para compor a amostra escolheram-se duas empresas de cada ramo de atividade, seguindo-se a ordem de numeração.Todas as entrevistas foram realizadas em data e horário previamente agendadas de acordo com a disponibilidade dos entrevistados e no seu próprio local de trabalho, e tiveram duração média de uma hora. Para não perder nenhum dos detalhes das informações concedidas pelos entrevistados, foi solicitada a permissão para gravação e garantido que os dados a serem divulgados receberiam tratamento de forma a não identificar os informantes e as empresas. 3 São considerados juízes pessoas que possuem experiência na arte de entrevistar e vão avaliar se as perguntas elaboradas para o roteiro atendem aos objetivos do trabalho e se a forma de perguntar está adequada. Normalmente são pessoas que possuem afinidade com o tema investigado (MANZINI, 2003). Empresa Ramo de atividade Tempo de funcionamento Nº de funcionários Nº de funcionários com deficiência EP1 Transporte de Cargas e Passageiros 70 anos 2200 17 EP2 Supermercados Atacado e Varejo 6 anos 1025 19 EP3 Metalúrgica Fabricação de Elevadores 5 anos 520 Tem pouco (não soube informar) EP4 Ensino 70 anos 200 4 EP5 Fabricação e comercialização de acumuladores elétricos 18 anos 140 4 EP6 Com. de veículos, peças e assistência técnica 34 anos 150 2(P.3 E 4)
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PESSOA COM DEFICIÊNCIA E O SEU TRABALHO |
“Para os entrevistados a pessoa com deficiência seria aquela que possui dificuldades tanto de natureza física, sensorial, intelectual, quanto comportamental, psicológica e social. Assim, além da dificuldade de ouvir, falar, enxergar, andar,compreender, etc. ela possuiria, também, a auto-estima rebaixada e, muitas vezes, aproveitar-se-ia da deficiência como desculpas para as possíveis falhas que ocorreriam no seu desempenho. “(P.4 E 5) |
OPINIÕES DOS ENTREVISTADOS |
“No subtema limitações de natureza física, sensorial, intelectual, comportamental, psicológica e social pudemos identificar algumas falas que ilustram as definições apresentadas pelos entrevistados sobre a pessoa com deficiência. [...] a gente enquadra os deficientes através do que a gente conhece. Como deficiência motora, deficiência da fala, deficiência auditiva, visual. Nos... nos sentidos mesmo, né? Eles (os deficientes) têm uma auto-estima muito baixa, né? [...] é lógico, eles também são pessoas que tem personalidade como nós. Mas, eu fico na dúvida, às vezes, sobre a pessoa que trabalha na portaria, até que ponto algumas atitudes que ela tem é função da maneira como lida com as deficiências, e até que ponto é uma característica de personalidade realmente, tá? “O subtema limitações para realização das atividades, aprendizagem e atender as exigências do meio nos fornecem algumas outras informações sobre como os participantes concebem a pessoa com deficiência no ambiente de trabalho. Uma dificuldade de exercer alguma atividade em função, por exemplo, de uma deficiência física, onde ela tem dificuldade para escrever, ou para ouvir, ou para falar ou para compreender alguma coisa. [...] que o deficiente, tem dificuldade de... aprendizado, mas não... nada que impeça a eles de integrarem na empresa como estão os indivíduos. Até nós temos um deficiente que não sabe nem ler, nem escrever. Depende das exigências, né? [..] tem uma pessoa que normalmente ela precisa ouvir e não consegue ouvir, ela tem uma deficiência auditiva. Geralmente ela não pode atender a uma solicitação naquele momento, ela tem uma deficiência, quer dizer [...]. (P.5) “no subtema potencialidade a ser desenvolvida e tratamento despendido à pessoa com deficiência.” [...] então ela (a pessoa deficiente) consegue de certa forma evoluir outras coisas para vida, para ficar..., para lidar com ela [...] nós orientamos os nossos próprios funcionários para tratá-los como pessoas normais. Dar atenção para eles, mas não tratá-los como criancinhas, né? Então como a gente fez, dá atenção, atenção comum como se fosse uma pessoa como outra qualquer, sem motivo para haver discriminação. (p.6) “sobre os subtemas desempenho na função, dedicação ao trabalho, trabalho adaptado e apoio. [..] eles fazem tudo que tem que fazer e nós é que temos que estar....meio que limitando assim. Eu não posso dizer que eu tenho tal funcionário, mas por que ele tem tal deficiência e eu não posso contar com ele para esse tipo de trabalho, não. Na função que eles foram contratados, eles desempenham 100%, sem nada, nada, nada.... a reclamar. Eu acho que é maior a dedicação dele, entendeu? Porque às vezes ele acha tão difícil conseguir uma oportunidade, alguma coisa assim, porque as pessoas sempre vão....., parece que tão sempre olhando aquela deficiência que ele tem para dar uma oportunidade, né? Acha que ele vai ser um atrapalho ou alguma coisa assim dentro da empresa e, às vezes, eles mesmos se sentem dessa forma e tendem a tentar fazer o melhor deles [...], que eles podem dar uma continuidade maior, alguma coisa assim. Eu acho que qualquer tipo de trabalho, desde que seja adaptado. Algumas coisas seja ele de cargos bons, gerenciais, administrativos, operacionais, né? É.... acho que vai depender de alguns fatores, inclusive de adaptação. Até, no emprego que nós tivemos, que a pessoa ela tinha deficiência auditiva e ela veio para fazer trabalho com a ajuda de uma outra pessoa, com atenção de uma outra pessoa, mas ela desenvolveu muito bem. (p.6) “Conforme Omote (1996), a prescrição de serviços destinados ao deficiente seria orientada mais pela categoria a qual o indivíduo pertence do que pelas suas necessidades especiais específicas, independente da natureza das limitações ou da patologia que é portadora. Com isso, o empregador acaba enquadrando a especificidade da deficiência ao tipo de função, ao invés de tentar adaptar a função à pessoa, utilizando recursos auxiliares. Quando se escolhe um trabalho em função apenas das limitações de uma pessoa corre-se o risco de ignorar as suas reais necessidades e possibilidades para o exercício de um trabalho. ”(p.6 e 7)
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RAZÕES RELATADAS PELAS EMPRESAS PARA ADMITIR FUNCIONÁRIOS COM DEFICIÊNCIA
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“Todas as empresas contatadas possuíam pessoas com deficiência no seu quadro e os entrevistados argumentaram que a inserção desses funcionários ocorreu com o intuito de desmistificar a idéia de que eles não teriam condições de exercer um trabalho, pois mesmo antes da exigência prescrita pela lei, já admitiam indivíduos com essas características. ”(P.7) “Observou-se que a principal razão para a contratação desse funcionário ainda estava situada na obrigatoriedade determinada pela lei nº 8.213. Assim, parece que a lei acabou funcionando como uma válvula impulsionadora para a abertura de novas vagas dentro das empresas. ”(P.7) “E serviu como ponte de acesso mais rápido para que as pessoas com deficiência pudessem alcançar o caminho do mercado de trabalho, conforme ilustram as falas a seguir. [..] então esses dois últimos anos que nós contratamos foi sem dúvida atendendo também [...], não atendendo a uma lei, é... mas assim ficando [...], é [...] a lei acaba sendo [...], chama a atenção, né? Como eu já te disse, como a lei exige, tem então um percentual pela empresa que é o percentual aos deficientes. Então nós sempre cumprimos essa lei, sempre estamos com um funcionário além do que é pedido por lei, né? Bom, o primeiro ele foi admitido [...] com o intuito de nós cobrirmos também .o que determina a lei, que nós temos um percentual de pessoas, né? Deficiência física trabalhando na empresa [...] por lei [...]. “(P.7)
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DIFICULDADES
DIFICULDADES |
“Embora a lei de cotas tenha surgido para ampliar as oportunidades de acesso ao mercado de trabalho para a pessoa com deficiência, na prática, o processo não é tão simples assim. Conforme expressaram os entrevistados, existem alguns critérios para a admissão de funcionários nas empresas que situam desde o cumprimento de requisitos mínimos para ocupar uma função até o enquadramento na estrutura física e funcional da empresa, conforme demonstram as falas a seguir, identificadas no subtema critérios para admissão da pessoa com deficiência na empresa: [...] a exigência mínima hoje para entrar na empresa, já faz dois anos, é 1 grau completo, e esse ano nós já partimos para um 2 grau completo. Primeiro a gente tem que atender os requisitos mínimos que precisa para ocupar a vaga: escolaridade, experiência anterior, curso de qualificação ou não, né? É [...] disponibilidade para trabalhar em vários horários. [..] depende da vaga, mas o básico seria o sujeito ter o segundo grau. Dependendo da função teria que ter experiência, dependendo da função não precisa de experiência. Alguns cargos têm que ter um bom relacionamento, ter habilidade para um bom relacionamento que é o próprio salário é, uma pessoa que tenha vontade de trabalhar, ter realmente disposição, disponibilidade. (P.8) “O critério mais intensamente apresentado pelas empresas foi a escolaridade e a responsabilidade recai sobre as condições do empregado. [...] eu não poderia colocar uma pessoa com problemas ortopédicos, de cadeira de roda, por exemplo. Porque ela não teria espaço para fazer essa locomoção, né? Já se fosse uma pessoa que dependesse somente do uso de apoio de muletas, por exemplo, não haveria problema nenhum, você entende? Então têm algumas coisas que a gente tem que adaptar a função ao trabalho nosso.” (P.8) “Segundo os entrevistados, embora as empresas estivessem disponibilizando vagas para serem ocupadas por essa população, elas estariam encontrando dificuldades em absorver essa mão de obra, tanto por falta de qualificação profissional quanto de preparo social para assumir uma função, principalmente quando a empresa exigia o desempenho de habilidades mais complexas e específicas” (P.8) “As falas a seguir ilustram algumas dificuldades atribuídas ao próprio indivíduo com deficiência para ingressar no mercado de trabalho: Acho que eles têm muita dificuldade ainda. É, assim, falta algum... que nem eu te falei, a gente encontrar pessoal que tem informática, que tem o 2º grau completo, que tem feito outros cursos, né? [...] existem vagas, mas não existem pessoas para preencher essas vagas no mercado de trabalho hoje. Porque principalmente na questão desses funcionários especiais, eles (os centro de profissionalização) têm que fazer um bom treinamento em cima deles para que possam estar preenchendo essas vagas, né? [...] o que a gente ouve das outras empresas até nessa situação é que muitas vezes querem trabalhar, querem dar essa oportunidade sobre essa questão da inclusão, mas que eles (os deficientes) não têm o preparo suficiente, uma capacitação suficiente. Eu acho que isso traria um maior incentivo também e aí ter um sistema de estar fazendo essa ponte com as empresas, de estar apresentando currículos de pessoas que tem uma capacitação profissional maior “também.” (P.9) “Como frisamos anteriormente, uma das dificuldades apontadas pelos entrevistados, para a pessoa com deficiência ingressar no mercado de trabalho, é a falta de escolaridade. O grau de escolaridade é um dos requisitos importantes para o funcionário ocupar uma função, pois normalmente a exigência é que ele tenha pelo menos o primeiro grau completo, mas algumas empresas já estão exigindo até o segundo grau. ”(P.9) “Seguem outros exemplos de falas para ilustrar as dificuldades da própria pessoa com deficiência. A gente tem de tudo um pouco. Assim, às vezes a gente diz aqui, também, no ambiente organizacional, que muitos deles não querem trabalhar e eles se escondem um pouco atrás da deficiência, eles acabam vendo como uma desculpa.Tem algumas atividades que não tem como você colocar um deficiente, mesmo que as pessoas acham que é extremamente normal você colocar uma pessoa com visão zero dentro de uma empresa que nem o nosso seguimento mecânico,né? Então fica difícil, às vezes, a gente se adaptar alguma função nesse sentido, teria que ser elaborado uma função com muito critério mesmo, para uma pessoa dessa exercer dentro da empresa. ”(.10)
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FALHAS DA EMPRESA |
“As falas dos entrevistados, a seguir, ilustram alguns exemplos de falhas da empresa, identificadas nos subtemas dificuldade de relacionamento com a pessoa deficiente e falta de conhecimento e informações sobre a deficiência. Não existe nenhuma preparação para empresa, para as comunidades, é... de entender a língua dos sinais para poder comunicar com eles (deficiente auditivo), né? Então, uma primeira vez que eu fiz entrevista com ele, senti assim muito mal, por não poder, não conseguir entendê-lo, né? [...] a gente que é normal, às vezes, num determinado instante, no primeiro momento, você sente aquela dificuldade de se perguntar, de se relacionar, perguntar para a pessoa como ela se sente, se ela se sente uma pessoa normal ou não. Porque às vezes vê dificuldade nela e ela não vê dificuldade nenhuma no que ela tem, né? E a gente que fica criando dificuldades nas pessoas. Às vezes elas não tem dificuldade nenhuma de locomoção, de visualização, e a gente acha que é tão difícil, né? (P6). [...] a gente tem muita pouca informação que chega até o empresário, que chega até a empresa. Não sei, de repente até um curso específico para as pessoas de RH (Recursos Humanos) que trabalha com seleção, promovida pelo SINE (Sistema Nacional de Empregos), que seja sei lá eu promovida por alguma entidade que trabalha com as pessoas, para orientar como que as pessoas são. Tem que desmistificar tem muita coisa aí que é mito ainda. [..] então é algo que a gente tem que conhecer mais, acreditar realmente em diferentes pessoas no trabalho. Então eu vou ter que convencer a empresa que ela não conhece realmente os benefícios e as dificuldades, ela precisava conhecer, realmente tem que convencer a empresa, de como a empresa se aplicar isso precisa fazer uma adequação. Eu acho que primeiro as empresas precisam saber o que o deficiente físico pode fazer dentro da sua empresa, em que condições ele pode trabalhar aqui dentro da empresa, ele pode exercer um trabalho aqui dentro da empresa, de acordo com as características da empresa que está oferecendo o trabalho. Então se ela souber, se ela tivesse essa consciência, tivesse conhecimento, fica mais fácil ela ir buscar essa pessoa no mercado de deficiência, entendeu?”(P.13) “falha de natureza arquitetônica. [..] eu falo em relação à própria empresa, ela não tem estrutura para estar atendendo uma pessoa com deficiência. É... temos escadas para chegar a certos departamentos. Como uma pessoa com uma deficiência mais grave vai chegar até esses locais, então as empresas não estão preparadas para isso, né? Como eu disse pra você, tem muitos setores que tem muita escada, paralelepípedo, então hoje nós temos um problema de ter que adaptar para uma realidade deficiente em alguns casos, né? [...] se nós tivéssemos um elevador aqui a pessoa trabalharia de cadeira de roda, com documentação, alguma coisa assim, não haveria problemas, né? Às vezes a chegada até o local de trabalho complica, né? Tem atividades também, o setor de peças mesmo que são prateleiras, às vezes fica no alto, tem mezanino, né?”(P.13)
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SOLUÇÕES |
“Apesar de os entrevistados apontarem diversos fatores que dificultariam a ocupação de um cargo pela pessoa com deficiência nas empresas, também sugeriram alguns meios que poderiam facilitar o acesso ao trabalho, tais como: a) eliminação de barreiras tanto de natureza arquitetônica quanto de natureza funcional; b) adaptação do ambiente das empresas com a colocação de rampas de acesso aos diferentes locais, banheiros adaptados e, se possível, a instalação de elevadores; c) adaptação de recursos para facilitar o acesso às informações do ambiente de trabalho e d) capacitação profissional que lhe possibilitasse competir no mercado de trabalho em igualdade de condições das demais pessoas. “(P.14) “As falas a seguir ilustram os meios para facilitar a ocupação de cargos pela pessoa com deficiência apontada pelos entrevistados: [...] principalmente para o cadeirante, que eu acho que é uma das deficiências mais complicadas em função da questão física mesmo. Ele já tem dificuldade de transporte, que passa o ônibus a cada duas horas, que tem possibilidade de levar a cadeira dele. Então, tem outros fatores que ficam complicados, né? Mas eu acho que sim, eu penso que a empresa [...], não [...], se fosse necessário ela faria adaptações. [...], o nosso objetivo é colocar um banheiro ali dentro, próximo, não tinha. Ela (a porteira) tinha que vir até aqui, isso para ela era difícil, né? É, porque a questão da locomoção para ela é mais complicado, né? O piso para ela também, em alguns momentos, né? Se o piso está molhado ou não, então agora [...] vai ter um banheiro ali próximo, dentro praticamente da portaria, visando principalmente a situação dela. [...] nós passamos a vê-lo com maior cuidado, também com relação às informações que envolvem o setor, mesmo.... alguns documentos que ele precisa ter acesso, aí tem que ser no caso uma impressão especial para ele, porque as letras têm que estar num tamanho que ele dá para visualizar, né? “(P.14) “Se houver o apoio do governo, mediante a concessão de incentivos, tanto às empresas que se propuserem a investir em programas de responsabilidade social, principalmente em relação ao trabalho da pessoa com deficiência, quanto aos órgãos que oferecerem cursos de capacitação profissional a essa população. (P.15).
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RESOLUÇÕES FINAIS |
“A começarem vigorar as leis que exigem a contratação de pessoas com deficiência, as instituições/associações que apóiam as pessoas com deficiência, e que vêm lutando incessantemente pelo alcance de uma de suas principais metas, que é a integração social, começaram a trilhar pelo atalho da legislação, utilizando a como instrumento de reivindicação para beneficiar a sua clientela nas questões relacionadas ao trabalho. Isso ficou evidente quando os entrevistados citaram que os seus funcionários com deficiência freqüentemente eram procedentes de instâncias de apoio a essa população. Tais instâncias contam com o auxílio da agência do trabalhador na busca de vagas em empresas, pois esta possui um programa de apoio à pessoa com deficiência que tem interesse em ingressar no ercado competitivo. Em alguns casos, o ingresso até havia ocorrido por indicação de parentes ou amigos de pessoas que já pertenciam à empresa e, com raras exceções, eles teriam se candidatado a uma vaga por iniciativa própria. Portanto, a lei, sem dúvida, tem servido como âncora para respaldar a busca de novos espaços no mercado de trabalho. ”(P.7) “Os entrevistados argumentaram que as pessoas com deficiência teriam dificuldade para assumir um trabalho, em decorrência de suas próprias limitações. Porém, na opinião deles, se essa população tivesse qualquer tipo de experiência anterior, que lhe propiciasse condições para desenvolver habilidades básicas para o exercício do trabalho, principalmente de relacionamento com outras pessoas, poderiam encontrar menos dificuldade quando inserido no mercado competitivo. Nesse sentido, os entrevistados compreendem que as instituições especiais teriam um papel fundamental dentro desse processo, já que muitas mantêm setores que se propõe a preparar pessoas com deficiência para encaminhá-las ao trabalho. Para isso, elas precisariam manter contato permanente com as empresas, conhecer quais seriam as suas reais necessidades e, a partir disso, oferecer cursos de qualificação que fossem compatíveis com aquilo que realmente o mercado de trabalho necessitasse. Caberia, também, às instituições desenvolverem habilidades de inter-relacionamento da pessoa com deficiência que seriam imprescindíveis para a sua convivência, tanto dentro quanto fora da empresa. ”(P.10) “Apesar de os entrevistados terem apontado que as pessoas com deficiência não estariam preparadas para enfrentarem uma situação de trabalho, admitiram que da mesma forma os empregadores também não estariam preparados para recebê-las. A dificuldade para se relacionar com uma pessoa que possui deficiência, até por não saber como lhe dirigir, muitas vezes acabaria tornando um obstáculo para as empresas quando estas necessitassem contratar um funcionário com essa condição. Na opinião dos entrevistados, essa situação seria decorrente da falta de conhecimento e informações sobre essa população. Assim, os entrevistados reconheceram que as empresas necessitariam de auxílio dos órgãos de apoio à pessoa com deficiência, no sentido de adquirir informações e conhecimentos mais precisos sobre a deficiência, a implicação dessa deficiência sobre o trabalho e os benefícios em admitir funcionários portadores dessa condição. ”(P.12) “Apesar de os entrevistados reconhecerem que as barreiras arquitetônicas constituem-se num dos obstáculos para a inserção da pessoa com deficiência no mercado competitivo, a não necessidade de realizar adaptações no ambiente de trabalho para ocupar uma função foi um dos critérios apontados para a sua admissão. “(P.13) “Assim, inúmeros foram os avanços ocorridos em relação às garantias legais sobre os direitos de acesso dessa população ao trabalho. No Brasil, notou-se uma certa preocupação no meio empresarial com o aspecto jurídico sobre o trabalho para a pessoa com deficiência, e os resultados deste estudo confirmaram essa questão. Conforme relataram os entrevistados, a obrigatoriedade prescrita na lei nº 8.213 foi a principal responsável pela concessão de vagas às pessoas com deficiência em suas empresas. ”(P.15) |